domingo, 30 de maio de 2010

Brasil: futebol e identidade nacional

O que se observa, nessa trajetória do século XX, é o papel fundamental que o futebol teve na construção da identidade nacional brasileira, na medida em que foi se transformando numa "paixão nacional", compondo de maneira significativa o mosaico da cultura política nacional. Assim como o carnaval e o samba, o futebol é um dos patrimônios culturais brasileiros.
O estudo desses movimentos culturais, revela como a política de construção e legitimação de uma identidade nacional dialoga com eles. Percebe-se uma relação tensa, na medida em que há manifestações explícitas de manipulação política do futebol, procurando usar a sua força emocional como forma de dar legitimidade a determinadas ações políticas. Ao mesmo tempo, o futebol guarda a sua autonomia, pois a sua força emocional e ideológica depende muito mais dos dribles individuais do que da vontade política.
O futebol tem um grau de autonomia que passa necessariamente pela genialidade individual do jogador, assim como aconteceu com Leônidas, Pelé e Garrincha, e acontece ainda hoje com Romário ou Ronaldinho. É essa "incerteza" da ação individual que destrói qualquer possibilidade de determinação e manipulação absoluta da estrutura política.
Do mesmo modo, é facilmente verificável como as figuras frágeis desses indivíduos são fundamentais na construção da identidade nacional. Os seus desempenhos nos campos determinam em alguns momentos mágicos - como nos campeonatos mundiais - a essência nacional. A nação fica dependente da genialidade desses indivíduos, na sua grande maioria pessoas de origem humilde - negros, índios ou brancos -, quase todos pobres e semianalfabetos, vindos de bairros proletários, de favelas ou de áreas agrícolas.
O diálogo desses indivíduos com os diversos processos de modernização forçada que o Brasil viveu nesse "breve século XX", evidencia tanto a força quanto a fragilidade da nação Brasil. A frase de Romário, pronunciada antes da conquista da Copa de 1994, nos EUA, expressa com um certo super-realismo essa nossa idéia:
Acho que depois de tanta coisa ruim e triste que aconteceu este ano (...), o Brasil merece a Copa. Eu posso colocar a Copa do Mundo para o brasileiro como se fosse um prato de comida. Se a gente ganhar esta Copa, estará dando um prato de comida para esse povo que está com fome.
Departamento de HistóriaUniversidade Federal do Paraná (Brasil)
Luiz Carlos Ribeiroribeiro@ufpr.br

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