sábado, 12 de junho de 2010

África do Sul 2010: Palco de Futebol entre Presos Políticos

A dura rotina dos presos políticos na África do Sul durante o regime do Apartheid se transformou em 1965, quando o futebol passou a ser permitido aos sábados em Robben Island, onde o líder negro Nelson Mandela passou mais de 18 anos preso.
Considerado o mentor da luta pela igualdade, Mandela, eleito em 1994 o primeiro presidente negro da história do país, acabou proibido de jogar e até de assistir às partidas organizadas pelos colegas de cela, que formaram a Associação de Futebol Makana (nome de um guerreiro do século XIX), reconhecida pela Fifa como associada em 2007.
Os ex-jogadores, hoje, lideram a nação. São os casos do atual presidente Jacob Zuma, Kgalema Motlanthe (presidente da África do Sul em 2008), Patrick Lekota (líder do congresso), Steve Tshwete (ex-ministro dos esportes), Dikgang Moseneke (integrante do ministério da justiça) e Tokyo Sexwale (ministro dos Assentamentos Humanos), além de vários prefeitos, entre outros.
Na temida prisão de Robben Island, o futebol surgiu como esperança de dias melhores e uma oportunidade de exercício de democracia daqueles que ajudariam a formar a África sem o Apartheid, regime que durou até 1990 e separava brancos e negros praticamente de tudo, desde praias até escolas.
Preso em 1963 na Robben Island por "conspirar para derrubar o governo", Jacob Zuma jogava como zagueiro e contribuiu para a evolução das competições. A primeira partida organizada ocorreu em 1967.
A associação Makana levou a iniciativa a sério, criando estatuto, comissão disciplinar, grupo de árbitros e até normas para transferências de jogadores. Tudo era baseado no regulamento da Fifa. Na encomenda de livros por parte dos presos, o segundo mais requisitado era um manual de futebol editado pela Fifa.
Os jogos só foram permitidos depois de três anos de reivindicações. Semana após semana, quem fizesse a solicitação recebia a pena de ficar dois dias sem comer. Mas nem isso foi capaz de reprimir o desejo dos detentos, que, mesmo formando diferentes facções, se uniram em torno do futebol. As partidas em Robben Island são consideradas por historiadores um objeto de luta contra o Apartheid, principalmente um meio dos presos se manterem organizados.
As ligas organizadas pela Associação Makana só acabaram após os presos conquistarem a liberdade. Se hoje a África do Sul busca a igualdade entre negros e brancos, parte deve-se ao futebol.

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